Tecnologia e saúde mental é um tema que precisa ser cada vez mais abordado, porque o avanço da inovação tecnológica é brutal, numa velocidade muito maior que as pessoas conseguem compreender e, muito menos, acompanhar.
Os ambientes corporativos e da vida em geral se tornam cada vez mais desafiadores e vamos nos transformando numa nova variação de nossa própria espécie, pois não entendemos, mas também estamos em transformação.
Nunca a humanidade evoluiu tanto quanto nas últimas décadas, não há comparação e isto faz com que tecnologia e saúde mental formem quase um paradoxo.
De um lado, você é impulsionado a andar conectado com todas as transformações, enquanto do outro, a capacidade evolutiva dos sistemas lógicos que movem o avanço da tecnologia, crescem em escala que é humanamente impossível acompanhar com consciência.
O resultado é um universo muito mais competitivo e a chegada de novos personagens, novas gerações, com muito mais flexibilidade intelectual para perceber e compreender estes movimentos, ao mesmo tempo que nossas atividades vão se tornam mais exigentes, ampliando a pressão, o estresse e a angústia que só parece aumentar.
Como gerenciar a simbiose entre tecnologia e saúde mental passa a ser um dilema e um dos grandes problemas sociais da atualidade e que tende a se ampliar a cada dia.
Tecnologia e saúde mental começa por uma análise comportamental humana e por uma visualização da nossa história evolutiva, não apenas com relação ao conteúdo, mas à forma como tudo tem acontecido desde que a humanidade surgiu na face da Terra.
Na verdade, precisamos separar 2 momentos cruciais: no primeiro, o nosso surgimento biológico, que é a maior parte de nossa existência e, num segundo momento, o advento da consciência humana, algo que tem entre 30 e 40 mil anos, ou seja, quase nada, se comparado aos 4,5 bilhões de anos do Planeta e mais de 50 milhões de anos distante do surgimento de nossos primeiros ancestrais.
Para falar de tecnologia e saúde mental precisamos realizar a conexão destes 2 momentos.
Passamos a maior parte de nossa evolução escrevendo códigos de programação genética em nosso DNA, formatando nossa genética, que é o software básico de cada um de nós, o que temos em comum entre cada um de nossos indivíduos.
O que nos separa é a nossa consciência, o que configura nossa personalidade e nos torna únicos, como impressões digitais, definimos nossos comportamentos através de escolhas e modelos de pensamento, que nunca são iguais, embora sejam normalmente parecidos.
A tecnologia pode ser vista de múltiplas formas, mas fundamentalmente, quando nosso ancestral descobriu que poderia usar uma pedra ou um galho como uma arma, ou como um instrumento para cumprir alguma tarefa de sobrevivência naquele instante, já estávamos utilizando tecnologia, mesmo sem conhecer sequer a linguagem ou comunicação.
Nossa caminhada nos levou ao desenvolvimento de ferramentas, dominamos o fogo e a evolução foi acelerando a partir destes elementos.
Em algum momento, tomamos consciência de nossa realidade e do mundo ao nosso redor.
Sinapses complexas começaram a acontecer em nosso cérebro, como em nenhum outro ser vivo.
Assumimos algo que hoje compreendemos como inteligência.
Muitos antropólogos e geneticistas acreditam numa teoria que atribui grande parte desta diferenciação por aspectos evolutivos estruturais contínuos, provocados pelos desafios do ambiente, associados a fatores bioquímicos, como o consumo de proteínas vermelhas, por exemplo.
De qualquer forma, somos parte de um processo evolutivo maravilhoso e complexo e sempre andamos na frente de nossa evolução.
Basicamente, nossa jornada evolutiva sempre andou atrás da gente.
Por tentativa e erro, aprimoramos o aprendizado e nunca paramos de crescer, primeiro lentamente e, depois, com discreta aceleração.
Passamos por muitos processos, desde quando queimávamos crianças em vulcões em homenagem ao sol, por acharmos que ele era uma espécie de deus, até descobrirmos que aquilo não era necessário.
Domesticamos plantas e animais e, por isto, paramos de ser nômades, peregrinos atrás da melhor caça e em busca de plantas nutritivas que só nasciam em lugares específicos.
Quando percebemos que poderíamos lançar sementes e fazer aquelas plantas brotarem em vários outros lugares, ao mesmo tempo em que aprendemos a domesticar animais, paramos de peregrinar e nos estabelecemos em povoados, aldeias e, mais tarde, cidades, estados e nações.
Tecnologia e saúde mental já estavam relacionadas desde o lançamento das primeiras máquinas, os primeiros dilemas existenciais relacionados à vida se ampliaram com o conhecimento que emergia.
O contato com novos recursos, como máquinas e equipamentos, também exigiu de nós um esforço evolutivo para lidarmos com eles.
Só não esqueça de um detalhe importante que vamos repetir várias vezes aqui: até então, toda a evolução correu atrás da humanidade, guarde isto.
Inventamos a máquina de escrever, por exemplo, ela ficou séculos sendo utilizada, com muito pouca evolução na forma como acionávamos teclas que reproduziam caracteres numa folha de papel, após atingirem uma fita contendo uma espécie de tinta, que reproduzia a forma do caractere no papel que ali esperava.
Mesmo hoje, quando você digita no teclado de um computador ultra moderno, ainda encontra um teclado igual, em ordem, sequência e processo, ao das primeiras máquinas.
O que quero dizer é que a máquina de escrever, como tantas outras máquinas e tecnologias, ficaram (e algumas ainda permanecem) por séculos no nosso cotidiano.
Nos tornamos especialistas em várias atividades profissionais…
Verdadeiros técnicos especializados em operar equipamentos, cada vez mais complexos, mas em algum momento, num tempo muito recente, algo determinante mudou drasticamente…
Quando passamos a correr atrás da evolução…
Até certo momento, a evolução correu atrás de nós.
Num contexto vital, isto tem sido assim desde que a primeira ameba se sentiu incomodada em alguma poça que foi ficando inóspita e se arrastou para fora, mudando de ambiente e se transformando num novo ser, mais evoluído.
Desde então, a evolução corre atrás de nós.
Mas precisamos falar de tecnologia e saúde mental e para isto precisamos entender um contexto importante: em algum momento, passamos a correr atrás da evolução e isto é muito recente e não compreendido.
Com a ampliação de nosso aprendizado, com os avanços tecnológicos, criamos “cérebros eletrônicos”, como eram conhecidos os computadores no início de sua criação.
A partir deste novo elemento, nossa própria capacidade evolutiva foi escalada, porque tínhamos criado uma ferramenta lógica, com capacidade de processamento de informações, praticamente exata e infalível, o que elevou a escala da nossa própria evolução tecnológica.
Esta nova invenção nos levou à Lua, criou ferramentas, equipamentos, maquinários avançados, automatizando escritórios, indústrias e todo o conjunto de vida da humanidade.
Nesta direção, a tecnologia chega hoje aos primeiros passos da aplicação da Inteligência Artificial em todos os setores.
Mesmo que a gente já esteja usando muitas variantes e possibilidades da IA, estamos apenas no início do que será a maior transformação da humanidade, pois o potencial de novas criações é quase infinito e cresce em progressão incalculável.
O impacto desta nova realidade na saúde mental…
Tecnologia e saúde mental começam a se associar cada vez mais, pois começamos a ficar assustados com tudo o que está acontecendo.
Como sempre andamos na frente de nossa própria evolução, tínhamos certo controle sobre nossos passos futuros, mas isto mudou completamente.
Um grande cirurgião, experiente e capacitado, com o tempo, precisará ser mais que conhecimento e experiência, pois precisará aprender a utilizar robôs avançados para realizar cirurgias.
Claro que haverá uma transição, em que as habilidades humanas e tecnológicas se completarão, mas tente imaginar a situação psicológica e emocional de um experiente cirurgião que tem dificuldade em aprender a usar as novas tecnologias cirúrgicas…
Provavelmente você vai afirmar que ele pode realizar a cirurgia utilizando seus velhos métodos e isto é real, mas por quanto tempo?
E quando as estatísticas mostrarem a assombrosa diferença entre resultados de cirurgias feitas pelos métodos tradicionais e aquelas que utilizam as novas tecnologias?
Quem vai querer se operar no modelo tradicional?
Como fica a mente deste experiente profissional, gênio da sua ciência, que tende a ser descartado pelo advento da tecnologia?
Este é um exemplo exagerado de uma realidade irrefutável.
Você pode projetar esta mesma situação em quase todas as atividades humanas da atualidade.
Contadores, advogados, produtores de conteúdo, professores, os próprios cientistas, construtores, como ter motoristas se os veículos serão autônomos?
No universo corporativo, aumenta cada vez mais o nível do estresse e da aflição das pessoas.
Ansiedade, por exemplo, é vista simbolicamente como “excesso de futuro”, o que significa que as pessoas geram elevados níveis de estresse devido às suas incertezas em relação ao futuro.
Isto se amplifica quando sequer temos ideia de como será o futuro.
A evolução tecnológica trouxe inúmeras vantagens para a sociedade, mas também desafios significativos para nossa saúde mental.
No ambiente corporativo, onde a pressão por produtividade e adaptação é constante, os impactos são ainda mais evidentes.
Vamos explorar como a tecnologia afeta nossa mente e como podemos encontrar equilíbrio:
1. A Conexão Permanente e o Esgotamento Digital…
A tecnologia nos mantém conectados 24 horas por dia.
E-mails, mensagens, redes sociais – tudo está ao alcance de nossas mãos.
No entanto, essa constante conexão pode levar ao esgotamento digital.
A pressão para responder imediatamente, a sensação de estar sempre “ligado” e a dificuldade em desconectar após o expediente afetam nossa saúde mental.
2. Ansiedade e Incerteza…
A evolução tecnológica traz consigo a ansiedade da incerteza.
Novas ferramentas, softwares e processos são introduzidos rapidamente.
As pessoas se perguntam: “Estou acompanhando? Serei substituído por uma máquina?”.
Esta angústia em relação ao futuro cria pressão sobre a estrutura da nossa saúde mental.
3. Sobrecarga de Informações…
A quantidade de informações disponíveis é avassaladora.
Estamos constantemente bombardeados por notícias, atualizações, relatórios e dados.
A sobrecarga de informações, de alguma forma, leva à exaustão mental.
A filtragem do que é relevante e o descarte do que não é se tornaram habilidades essenciais.
4. Isolamento e Relações Superficiais…
Embora estejamos mais “conectados” do que nunca, muitas vezes nos sentimos isolados e isto é parte relevante da relação entre tecnologia e saúde mental.
As interações digitais não substituem o contato humano real.
A falta de relações profundas e a prevalência de relacionamentos superficiais nas redes sociais podem afetar nossa saúde emocional.
5. Automação e Medo do Desemprego…
A automação e a inteligência artificial transformam o mercado de trabalho.
O medo do desemprego e a pressão para se manter relevante levam a altos níveis de estresse.
A adaptação constante a novas tecnologias e a busca por habilidades atualizadas são desafios enfrentados por todos.
6. Estratégias para Cuidar da Saúde Mental…
A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas devemos aprender a usar com sabedoria.
Encontrar um equilíbrio entre o mundo digital e o mundo real é essencial para nossa saúde mental.
Somos mais do que nossos dispositivos – somos seres humanos com necessidades emocionais e sociais e isto nunca vai mudar.