Objetivos da contabilidade são múltiplos e até nos confundimos em meio a tantas variações de uma única atividade, o que é comum, já que falamos de ciência, e mais especificamente ainda, de uma ciência exata.
Além de confundir, as pessoas também costumam esquecer que ao falarmos de contabilidade estamos falando de uma ciência, exata, matemática, específica, objetiva e clara.
Esta característica essencial da contabilidade vem desenhando seu presente e o seu futuro, de maneira dinâmica e intensa, já que as transformações não param de apontar novas direções.
Um cenário ótimo para gerar mais confusão e desconhecimento, o que é compreensível, pois vivemos um momento histórico da evolução da humanidade, onde a tecnologia cresce exponencialmente e arrasta todo o restante atrás de si, causando o surgimento de novas tendências a cada momento.
A contabilidade se move em meio a tanta transformação e como ciência exata encontra várias dificuldades de adaptação, um pouco menos ao presente, mas certamente, muito mais em relação ao futuro, que é desconhecido e desafiador.
Por isto resolvemos retomar os objetivos da contabilidade numa espécie de revisão das suas principais funções, para organizarmos a nossa própria confusão.
Objetivos da contabilidade são fundamentais na condução de gestão de qualquer empreendimento, no Brasil e no mundo, pois a contabilidade é a base de conhecimento científico sobre a essência dos resultados objetivos.
O controle está diretamente ligado à contabilidade e controle é a base de qualquer gestão, já que gerenciar é atingir metas e se o seu foco é atingir metas, por óbvio, você precisa conhece-las, algo que só o acompanhamento dos indicadores pode proporcionar…
Opa! Falamos em indicadores?
Esta é uma das pontas que a contabilidade amarra, pois se gerenciar é atingir metas, então gerenciar é eliminar anomalias, pois são as anomalias que nos impedem de chegar às metas e estas anomalias só se tornam perceptíveis com um rigoroso monitoramento de indicadores.
E quem fornece esta estrutura de indicadores?
Ela mesma… A contabilidade em suas múltiplas funções.
Onde começou a contabilidade:
O entendimento é de que a contabilidade nasceu no rastro da matemática, quase junto, talvez com alguns pouco séculos de diferença (o que é nada diante da história da humanidade).
Consta que quando os fenícios, notadamente começaram a trabalhar melhor com as contas, se estabeleceu automaticamente a necessidade de realizar registros de operações, onde muitos apontam este como um início mais objetivo das atividades contábeis, o que o próprio nome da ciência aponta: ciências contábeis, de contar e registrar.
A verdade é que a contabilidade de fato é muito mais antiga e nasce junto com a Revolução do Conhecimento (Revolução Cognitiva), mais ou menos uns 70 mil anos atrás, quando o Ser Humano assumiu que tinha consciência, começou a conhecer sua inteligência e deixou de ser apenas um mamífero andarilho e nômade.
Algum tempo depois tivemos a segunda grande revolução evolutiva da humanidade, a Revolução Agrícola, uns 20 mil anos atrás, onde o Ser Humano começou a domesticar plantas e logo em seguida, os animais.
Mas porque isto é importante para a compreensão da história da contabilidade?
Porque esta é a história da contabilidade.
Como o homem que era nômade, vivia peregrinando em busca de alimento e caça e isto o obrigava ao movimento constante, sem fincar raízes permanentes em nenhum lugar, ao descobrir que poderia manipular ciclos e crescimentos de determinadas plantas num ou noutro lugar e até domesticar certos animais que antes precisava perseguir em intermináveis caçadas, o homem deixou de ser nômade, permanecendo definitivamente em determinados lugares, onde passou a plantar, colher e criar, algo muito mais confortável, seguro e inteligente de fazer.
É deste momento de transição do nômade para o aldeão que surgem os primeiros registros de fato de utilização da contabilidade, mesmo que formalmente ela ainda não tenha sido reconhecida.
Se as pessoas e seus grupos resolveram se estabelecer em determinados lugares, normalmente os melhores espaços para plantações e pastoreio, era necessário registrar posses, propriedades, controles de áreas, extensões, limites e tantas outras informações que permitiam uma condição de vida em conjunto de maneira minimamente civilizada, sobretudo no início daquela nova era.
Já estamos começando a ver a aparição da contabilidade na vida humana e os objetivos da contabilidade recém nasciam, assim como a ciência, da qual ainda não se tinha consciência, apenas se realizava.
O primeiro passo, portanto, está relacionado ao registro e proteção da posse, bem como o registro e perpetuação da história desta posse, além dos fatos ocorridos sobre os objetos materiais dos quais o homem sempre dispôs na busca de seus objetivos.
Depois de registrar a posse, a organização de produtividade agrícola e dos rebanhos também foi ganhando contornos mais técnicos e a matemática era a essência destes registros.
De um lado, documentos e registros garantiam a posse de áreas e espaços geográficos, posse esta conquistada através de muitos meios, alguns legais e outros nem tanto, já que a humanidade sempre teve que guerrear para assegurar acesso aos melhores campos, lugares e regiões.
O comércio de espaços também ganhou força e nem só de guerras viviam as conquistas de territórios, pois também era possível adquirir, sempre em troca de valores, que se apresentavam de diversas maneiras, como trocas, intercâmbios e até o dinheiro, que torna tudo um pouco mais fácil de entender.
O patrimônio:
Um caminho normal relacionado aos objetivos da contabilidade que acontece em paralelo com esta história é que além dos registros de espaços geográficos e propriedades, também havia a necessidade de registros e controles do que ali acontecia.
Registrar e controlar produtividade, o resultado das safras e criações, o que era armazenado ou comercializado, as entregas do que era vendido e os estoques do que ficava.
O comércio era uma atividade tão antiga quanto a humanidade e a contabilidade nasceu com ele.
Surgia o conceito de patrimônio e quando alguém morria suas propriedades não eram distribuídas entre sobreviventes diversos, mas era partilhada entre seus sucessores e tudo isto precisava de registros.
Observe como a contabilidade já nasceu importante e indispensável.
A própria origem da expressão “patrimônio” vem de sua relação com a expressão “pai” (pater, patris).
Com uma rápida evolução, o termo “patrimônio” passou a ser usado para determinar quaisquer tipos de valores, mesmo que não estivessem relacionados a heranças, já que sua aquisição por alguém o faria componente da herança de sua próxima geração, não importando a forma desta aquisição.
Historiadores aceitam bem que a contabilidade nasceu junto com a humanidade, mas também reconhecem que os fenícios, por suas notáveis aptidões com a matemática, também foram o povo que consolidou a contabilidade na sua forma de ciência exata, ou ao menos, embrionou esta direção.
O comércio não era uma prática exclusiva dos fenícios, já que o mundo inteiro comercializava praticamente tudo o que podia ter valor para alguém.
Os fenícios, no entanto, organizaram métodos, tanto matemáticos quanto contábeis e por isto o nascimento da contabilidade não é atribuído exclusivamente a eles, mas a consolidação da contabilidade como ciência, isto sim.
A coisa foi ficando detalhista e complexa, quando se agregou naturalmente a variação dos valores de bens e serviços, pois algo valia mais se estivesse fora de sua safra, por exemplo, o que o tornava mais raro e, por consequência, caro.
Do contrário, em picos de safras, os produtos perdiam escassez e o seu valor de mercado caia, quando alguns produtores resolviam reter produtos propositalmente para provocar um aumento de demanda, fazendo o valor voltar a subir, mesmo em tempo de safra, mas o produtor também precisava de recursos para atender suas necessidades de vida e de preparação para a nova safra e isto gerava uma dança de equilíbrio entre reter o produto e liberar estoques.
Observe como os objetivos da contabilidade vão sendo ampliados, na medida em que as operações vão começando a ficar mais complexas.
Um erro de registro contábil tinha (e tem) o potencial de afetar toda uma cadeia econômica, em todas as suas pontas e em toda a sua extensão.
A importância da contabilidade começou a ser sentida como determinante, a ponte de, com a evolução humana, a contabilidade ser um daqueles serviços que deixaram de ser opcionais, como o de pintor de casas, por exemplo…
É importante pintar a casa de vez em quando e não apenas por estética, mas por preservação e valorização do patrimônio…
Se você não estiver num momento econômico bom e não for possível pintar a casa este ano, sem problemas, você espera a situação melhorar e pinta quando der e só então contrata um pintor, de forma opcional e de acordo com a sua realidade…
A contabilidade ficou tão importante e indispensável que deixou de ser opcional e consta que passou a ser “mais ou menos” obrigatória em torno de 2000 a. c. quando egípcios passaram a ser obrigados a manter registros formais e oficiais sobre as movimentações de patrimônio.
A cobrança de impostos foi um outro fator determinante para a obrigatoriedade da existência da contabilidade como ciência, pois era de interesse dos governos a cobrança total de seu quinhão sobre tudo o que se produzia e circulava na comunidade, pois em tese, era o que mantinha a infraestrutura da própria comunidade, como deveria ser até hoje (já que este é um grande centro de desvios, mas isto é outro papo).
De outro lado, a população também tinha interesse que o controle fosse bem feito, sob pena de ter que pagar mais do que deveria.
Observe que já no seu nascimento e consolidação a contabilidade teve diversos objetivos claros e evidentes, em várias direções diferentes…