Empreendedorismo feminino é um desafio para poucos, na verdade, para poucas, pois o cenário que vivemos desde os primórdios da evolução é inóspito e cruel com o gênero feminino.
Desde que nos entendemos por gente, aliás, desde antes de termos consciência de que somos gente, a mulher é socialmente inferiorizada e não adianta você pensar que é muito bom que este tempo já tenha passado, pois ainda nos dias de hoje as mulheres enfrentam dificuldades e barreiras que não são impostas aos homens.
Isto é sentido em todo o tecido social, mas se torna mais evidente no mundo corporativo, nas empresas, onde os salários femininos são sempre menores que os masculinos (com exceções).
No caso do empreendedorismo feminino os desafios são ainda maiores, pois além de todos os obstáculos naturais comuns a qualquer empreendedor, a mulher enfrenta as diferenças impostas à sua condição de mulher, cercada de incertezas, dúvidas quanto à sua capacidade, bloqueios velados e não tão evidentes de um espaço historicamente masculino, que se vê forçado a abrir portas para um personagem do qual só se esperava que abrisse pernas.
Esta é a realidade enfrentada por mulheres que, de alguma forma, são a evolução de outras mulheres que enfrentaram desafios, superaram barreiras e com muita luta, conquistaram avanços que permitem que hoje mulheres do mundo todo se posicionem como comandantes de empreendimentos de sucesso.
Empreendedorismo feminino é uma condição de desenvolvimento social que não para sob nenhum obstáculo e os números apontam isto.
Claro que, em relação ao que já quase não existia, quando algo passa a existir, já eleva estatísticas de forma assombrosa, mas em proporção à existência de mulheres no mundo, o percentual de mulheres empreendedoras ainda é baixo, embora esta realidade esteja mudando rapidamente.
Provavelmente muitos vão afirmar que empreender é parte da construção de perfil do homem e que não está presente, na mesma forma e intensidade, no perfil da mulher.
Isto não é exatamente mentira, mas também não é verdade absoluta.
Já escutamos várias vezes discursos afirmando que mulher foi “feita” para cuidar da família, das coisas de casa e até do marido.
A parte verdadeira disto é que toda a nossa construção social foi elaborada em cima deste pensamento arcaico e todos os personagens, incluindo as mulheres, se colocaram nesta posição social…
O homem saia para trabalhar, “ganhar o sustento” da família, enquanto a mulher cuidava das tarefas do lar, dos filhos, do próprio marido.
A verdade é que a sociedade transformou mulheres em empregadas domésticas particulares e não remuneradas, trabalhando por teto e alimentação.
O tempo foi passando, o conhecimento proliferando e depois de muita submissão, algumas mulheres resolveram se incendiar num galpão e seu movimento passou a mostrar que mulheres tinham padrão de igualdade social aos homens.
Desde aquele dia 25 de Março de 1911 (não 8) em que 130 mulheres operárias foram carbonizadas no incêndio de uma fábrica (Triangle Shirwaist), em Nova York, onde também morreram 23 homens, se convencionou definir a data como Dia Internacional da Mulher.
Isto simplifica demais toda uma história de lutas pela liberdade feminina e igualdade de direitos, que já vinha há décadas se desenvolvendo.
O episódio serviu para a consolidação dos sindicatos e das uniões entre categorias para exigir segurança, condições mínimas de trabalho e igualdade de remuneração.
Claro que tudo foi desvirtuado e hoje em dia, apesar de todos os problemas que as mulheres enfrentam em seu encaixe social, sobretudo no mundo corporativo, as empresas aproveitam a data para dar perfumes, flores, sessões em salões de beleza para as mulheres do time, mas notamos que de maneira geral, tudo soa meio como um pedido de desculpas por algo que, de alguma forma, ainda continua acontecendo.
O avanço do empreendedorismo feminino:
Aos poucos, enfrentando as dificuldades, algumas impostas até pelas próprias mulheres, que se sentem confortáveis em assumir uma vida contemplativa, servindo de apoio para o “líder da família”, o grupo de mulheres empreendedoras vai crescendo.
A posição da mulher empreendedora vai ganhando cada vez mais evidência e vai se consolidando na medida em que as iniciativas de empreendedorismo feminino vão ganhando corpo no conjunto da economia global.
Sim, empresas lideradas por mulheres vão construindo um portfólio econômico nada desprezível e esta fatia de recursos vai se tornando importante demais para ser combatida.
O interessante é que todo este movimento também conta com o que chamamos de empreendedorismo informal, onde a mulher coloca um salão de beleza, uma estética ou um serviço itinerante de cuidado das unhas ou massagem corporal.
Mulheres estão erguendo verdadeiros impérios empresariais, a partir de sua iniciativa, de sua dedicação, capacitação, disciplina e foco.
Em todos os campos da sociedade as mulheres estão avançando e isto não é um discurso feminista, é a constatação de uma realidade que já deveria ter sido transformada de berço, mas que perdura até hoje, bloqueando o potencial de desenvolvimento econômico e social que a mulher já demonstrou capacidade para assumir e contribuir.
Poderíamos ser simplistas afirmando que empreendedorismo feminino é o ato de empreender realizado por mulheres.
Dito isto, poderíamos encerrar por aqui e seguirmos adiante com nossas vidas.
Ocorre que empreendedorismo feminino carrega muito mais expressão que a lógica das palavras ali contidas.
Empreendedorismo feminino é um rompimento de barreiras por parte de um grupo social expressivo (a mulher) que passou a história inteira subestimada e oprimida.
Se analisarmos a questão pelo viés do “business” poderemos perceber que o tema também se refere a um novo olhar sobre os negócios, um novo estilo, mais sensibilidade humana nos processos, mais disciplina, mais dedicação e isto reflete diretamente nos resultados, algo que também vem incomodando o “status quo”.
A visibilidade que o empreendedorismo feminino vem imputando ao mercado tem transformado visões.
É evidente que o empreendedorismo feminino está trazendo novas formas de negociar, de estabelecer relações profissionais dentro e fora das empresas e até entre as corporações, criando veias de negócios diferenciadas do tradicional, o que proporciona resultados igualmente diferenciados.
Os números do empreendedorismo feminino:
Algo que torna incontestável o avanço do empreendedorismo feminino são os números, principalmente os que estão relacionados com o mundo dos negócios.
Em 2019 uma respeitável empresa de consultoria, chamada GEM BRASIL (Global Entrepreneurship Monitor) publicou um estudo aprofundado mostrando a realidade deste segmento.
Os dados são marcantes, não apenas por demonstrar a evolução do perfil feminino à frente dos negócios, algo que, de certa forma é até natural e aceitável, mas o que chama a atenção é que as mulheres evoluem muito mais rápido que os homens no mundo dos negócios, claro, em proporção.
Tudo isto seria impensável há pouco tempo atrás.
Na evolução proporcional as mulheres já são maioria, somando 15,4% das novas ações empreendedoras, contra 12,6% dos homens.
No Brasil o SEBRAE demonstra através de um estudo de 2018 que este crescimento não se restringe às grandes capitais e grandes centros econômicos, mas ao país inteiro.
Numa amostragem feita no Espírito Santo os resultados são latentes, demonstrando que no comércio 52,95% dos negócios pertencem a mulheres e na indústria este número chega a 65,2%, enquanto no setor de serviços o índice é de 55% de mulheres.
Numa análise do perfil de investimentos em negócios se descobre que 43,9% das mulheres investem em serviços, 36,42% no setor industrial, 1,34% investem na construção civil e 0,15% na agropecuária.
Todas estas informações se refletem de forma global no universo nacional, onde 48% das empresas envolvem empreendedorismo feminino.
Dados importantes também apontam que o Brasil é o 6º colocado no ranking mundial de empreendedorismo feminino.
É incontestável a importância da mulher no mundo como um todo, mas no mundo dos negócios elas vão mostrando maior desenvoltura, mais criatividade e sensibilidade, o que costuma ser considerado importante, mas subjetivo pelo mundo corporativo, passa a ganhar força como ingrediente de competitividade.
O presente e o futuro exigem cada vez mais diferenciais competitivos para se ocupar uma faixa de mercado que mantenha a sustentação do negócio e tudo gira em torno de uma palavra poderosa: INOVAÇÃO.
Ocorre que INOVAÇÃO é um elemento que só brota de uma única semente, chamada CRIATIVIDADE.
Criatividade, por sua vez, só nasce em pessoas, não em sistemas, tecnologia, processos ou infraestrutura…
O detalhe é que a criatividade prolifera em terrenos com maior sensibilidade, como é reconhecidamente uma característica da mente feminina…
Obviamente a criatividade está presente de forma abundante no cérebro masculino, mas o viés mental feminino é mais sensível (coisas de maternidade) e isto dispara processos criativos únicos, o que possui extremo e reconhecido valor, quando cada detalhe faz a diferença.
O fato é que, por todas estas, a mulher vai se encaixando, aos empurrões, no cenário corporativo, tanto assumindo postos de destaque e liderança, quanto evoluindo para ser empreendedora de seus próprios projetos.
A independência feminina:
Tudo começa com a construção de sua própria independência, quando a mulher assume as rédeas de seu destino, estuda, se aperfeiçoa, trabalha e constrói sua independência, não apenas financeira, mas social e emocional.
Isto transforma aquele frágil ser em um personagem ativo, forte e completo, pronta para enfrentar qualquer desafio, tanto na vida pessoal quanto profissional.
Esta liberdade social e independência de decisões que a mulher vem conquistando tem aberto espaço para ela mergulhar no empreendedorismo feminino como fonte de crescimento e realização.
Dali ela retira não apenas seu sustento, mas o faz com independência, inteligência e desenvoltura.
Depois que descobre seu potencial ela avança vigorosamente e atinge ápices de construção e realização de projetos de fazer inveja a todos os olhares.
O objetivo não é fazer inveja, é muito mais nobre que isto, é construir carreira e reconhecimento e isto é inegável que já está acontecendo.
O mundo segue aos tombos e o universo corporativo até tenta resistir em seus meandros mais conservadores, mas a evolução do empreendedorismo feminino já deixou de ser potencial tendência e passou a ser franca realidade.
Já está acontecendo e não para mais.
Nem tudo são flores, no entanto, pois mesmo com toda esta desenvoltura, as mulheres empreendedoras ainda precisam reforçar, todos os dias, o seu papel na sociedade e no mundo corporativo.
Mulheres ainda são frequentes vítimas de deselegâncias, abusos, machismos, discriminações, dúvidas e desconfianças.
É uma luta constante e que ainda haverá de perdurar por muito tempo ainda, até a troca de algumas gerações.
Mulheres ainda sofrem na construção de networks, pois as redes costumam ser preferencialmente masculinas e quando se trata da inserção feminina, ela sempre vem cercada de preconceitos e alguma forma de abuso.
A tecnologia tem auxiliado na evolução do empreendedorismo feminino, sobretudo com o advento de softwares de apoio à gestão, o que resolve boa parte operacional de tarefas cotidianas.
Com a pretensão de oferecer um apoio de conhecimento relevante para as mulheres que pretendem se lançar no universo do empreendedorismo feminino, fomos buscar algumas dicas que podem ajudar antes de se posicionar efetivamente como empreendedora.
Sabemos que é preciso muito mais do que vamos listar aqui, mas dá para perceber que estes 6 aspectos que escolhemos são vitais para qualquer mulher que queira enfrentar o processo com alguma chance de sucesso.
Bora lá!…
1 – Resiliência:
Saiba que você terá que possuir um excelente espírito de resiliência, que nada mais é do que a resistência de seguir em frente, sem desistir de seu projeto, independente das dificuldades que se apresentem diante de seu caminho.
Resiliência é aquela história de que “dobra, mas não quebra!”.
A soma de resistência, perseverança e flexibilidade forma a resiliência.
Não desista, perdoe o “chavão”, mas a maioria dos que desistiram o fizeram muito próximos da conquista.
Tenha um planejamento e siga com ele, adaptando, aprendendo, evoluindo, mas jamais desista.
Entenda desde o início que um negócio de sucesso leva tempo para ser construído e consolidado.
2 – Planejamento:
Seja metódica, você já carrega isto em você, por isto, execute um planejamento consistente, bem embasado, considerando todas as pontas, estabeleça e conheça os pontos fracos de seu projeto, busque aprimoramento para melhorá-los…
Conheça e fortaleça seus pontos fortes, criando diferenciais competitivos únicos e atraentes ao seu potencial mercado.
Planejar é definir antes o caminho de seu sucesso, por isto confie em seus sentidos e habilidades, colocando tudo em forma de planejamento, nomeando personagens de seu projeto, os investimentos, a cadeia de recursos, de produção, de operação, de comunicação com o mercado, cada pequeno detalhe e aspecto deve estar previsto e estudado.
3 – Estude o mercado:
Entenda o seu mercado, busque todo o conhecimento possível sobre as pessoas que vão compor seu portfólio de clientes.
Descubra os hábitos de consumo, as preferências, os canais de comunicação que consomem e o tipo de mensagem criativa e qualificada que você pode usar para chegar a ele.
Saiba tudo o que puder sobre seu concorrente, mantenha foco nas suas ações e tente inovar a partir das ideias existentes.
Sempre é possível encontrar uma forma DI FE REN TE de fazer as mesmas coisas e isto vai abrir portas de mercado que posicionarão seu projeto à frente de todos os demais.
4 – Inteligência emocional:
Conheça, estude e pratique a inteligência emocional, que é a capacidade de entender suas emoções, seus gatilhos, os processos internos e até primitivos, que desencadeiam decisões e comportamentos.
Tome cuidado para não se tornar refém do réptil que habita em você.
Seja independente de suas vontades e desejos primitivos, mantendo controle da razão sobre seus atos, pois isto é determinante num universo de estratégias e planos, como é o mundo corporativo.
5 – Equilíbrio financeiro:
Não importa quanto de recursos econômicos você tenha disponível, nem mesmo se você não tiver nenhum, mas entenda, desde o início, que a maior parte dos problemas financeiros que acontecem nas empresas, sobretudo as que estão começando, acontecem em função da “mistura” entre o que é da empresa e o que é da pessoa.
Ter equilíbrio financeiro é construir um fluxo econômico permanente para abastecer seu projeto.
Um fluxo de caixa robusto, que se retroalimente da operação, sempre com perspectiva positiva, já que o lucro é uma obrigação de qualquer empreendimento.
Tenha responsabilidade com seus compromissos, com tudo o que envolve o projeto e com as pessoas que estão envolvidas na sua realização.
6 – Entender de gente:
Provavelmente este é o aspecto mais relevante, porque pessoas são o ativo mais importante e valioso de qualquer empreendimento.
Sistemas são sistêmicos, processos são sistêmicos, infraestrutura e tecnologia são sistêmicas, mas pessoas não são sistêmicas, e somente delas pode surgir a semente da criatividade, o que fará nascer a inovação, o diferencial de sucesso do presente e do futuro.
Saiba selecionar pessoas qualificadas para cada missão envolvida em seu projeto.
Pessoas certas nos lugares certos é uma das bases do sucesso no universo corporativo.
Se pessoas são o ativo mais importante e valioso de uma empresa, então, por lógica simples, o principal papel de um gestor é cuidar das pessoas de sua empresa.
Empreendedorismo feminino não é apenas uma condição da nossa realidade corporativa, mas um acontecimento evolutivo importante, com potencial de transformação do mundo.
A partir do desenvolvimento de novos projetos comandados por mulheres, o mundo vai ganhando um novo desenho social, a independência estrutural da mulher vai modificando as relações humanas e isto é fonte de uma das mais profundas transformações da história da humanidade.
A mulher coloca seu toque e seu olhar diferenciado sobre quase todas as esferas da vida, é múltipla, conhece a vida como ela é, com uma percepção que a maioria dos homens jamais conhecerá.
Uma mulher cozinha sim, cuida da casa, das roupas, dos filhos e até do marido, mas ainda assim, com um heroísmo incomparável, ainda encontra tempo e forma de criar projetos, desenvolver ideias e promover o empreendedorismo, com vigor, energia e uma qualidade competitiva que poucos sabem ou conseguem explicar.
Enquanto muitos homens cumprem com qualidade seu papel no mundo corporativo, aplicam ideias geniais e promovem conquistas impressionantes, depois vão “relaxar” com os pés para cima sobre alguma mesa de centro de uma sala bem arrumada, a mulher vem conseguindo estas mesmas vitórias e conquistas, mesmo que o seu ato de “relaxar”, e de comemorar, seja cuidando das lições de casa dos filhos, fazendo o jantar ou resolvendo os problemas da casa, enquanto o tal “líder da família” descansa feito um leão farto por encher a pança.