Diversidade nas empresas é um tema complexo, infelizmente, porque é complexo também na sociedade e as empresas são um cenário onde a maior parte das pessoas passa a maior parte de seu tempo.
Primeiro é preciso entender o que são pessoas, o que são seres humanos, sob uma ótica livre e despojada de nossos julgamentos e esta é a parte mais complicada.
Existe um desafio que é impossível de ser realizado por qualquer pessoa, por mais simples que possa parecer.
Tente passar um dia sem julgar ninguém.
Você não vai conseguir.
O julgamento é da natureza humana e nós vivemos julgando tudo e todos que cruzam nossos sentidos.
Julgar não é exatamente o problema, o complicador é que os parâmetros que utilizamos para julgar os outros são os nossos padrões sobre o que é certo ou errado e isto muda para cada indivíduo e o que é aceitável para uns pode ser impensável para outros.
Esta múltipla variedade de perspectivas e parâmetros é denominada de diversidade.
Diversidade de gênero, de hábitos, de cor da pele, estilo de vida, opiniões sobre diversos temas, posicionamentos políticos e sociais e tudo isto habita também o ambiente empresarial e é preciso saber como lidar com algo simples, mas de abordagem tão delicada e que pode levar a distorções incuráveis.
Diversidade nas empresas é algo que vem ganhando cada vez mais o interesse em debates corporativos de todos os tipos, por evolução ou necessidade.
Vivemos em sociedade e isto requer capacidade de convivência com o que é diferente de nós, não importando o tema.
Pessoas possuem construções diferentes e são resultado de uma evolução em ambientes e culturas que costumam ser diferentes, se não no todo, ao menos em partes em relação aos outros.
Frutos da evolução
Nós somos a soma integral de todas as nossas experiências e adaptações ao ambiente ao que fomos e somos expostos em nossa trajetória.
De um lado, carregamos históricos registros genéticos oriundos do processo de evolução biológica e antropológica, enquanto de outro, trazemos as influências do meio onde estamos inseridos.
A própria evolução é uma resposta ao meio.
A primeira criatura aquática que precisou se arrastar para fora da água, já mais ácida e ameaçadora, em busca de sobrevivência, passou a adaptar seu corpo para melhor se movimentar e nadadeiras viraram patas e o ato de se mover foi facilitado, fazendo com que aquele ser se tornasse híbrido, anfíbio, até continuar evoluindo e se multiplicando em tantas outras milhares de variações, até chegar ao que somos hoje.
Consta que a primeira grande revolução da humanidade foi a REVOLUÇÃO COGNITIVA, algo com aproximadamente 70 mil anos de idade, quando assumimos consciência e nos tornamos os seres mais complexos do Planeta.
Viramos Sapiens.
Desde então começamos a julgar, pois vivíamos em sociedade e escolhíamos quem seriam nossos parceiros de caça, de aldeia, de reprodução, de convivência e enfim, de jornada.
Se julgamos é porque não somos iguais e por isto vivemos de escolhas e comparações, onde aceitamos algumas coisas de forma mais fácil que outras.
A diversidade sempre existiu e faz parte de nossa construção.
Nosso conjunto evolutivo é fruto das múltiplas experiências biológicas que as condições ambientais nos submeteram.
Com a formação das sociedades os comportamentos passaram a ser modulados para uma vida dentro de padrões aceitáveis para os grupos aos quais pertencíamos.
Quando adquirimos a consciência e o processo de inteligência começou a evoluir, nosso potencial de traçar comparativos foi disparado e desde este momento designamos muita energia para comparar e julgar, já que isto é parte de nosso processo de seleção natural.
É importante entender que nossos mecanismos de julgamento são importantes para a formação de nossas escolhas e são estas decisões que nos aproximam ou afastam de outros indivíduos, situações ou condições de vida que se apresentam em nossa caminhada.
Não há nada de errado nisto.
O problema, como na maioria de todas as situações que dizem respeito à vida, são os excessos, a quebra de limites, a construção de preconceitos e repelência, a ponto de discriminações, a partir de nossos julgamentos e inabilidade em lidar com o que entendemos como diferente.
Diversidade nas empresas
As empresas são uma das mais relevantes extensões da sociedade, se não por outro motivo, porque a maioria das pessoas passa a maior parte de seu tempo dentro das corporações, em seu trabalho.
Impossível desconsiderar o contexto social sem levar em conta o cenário onde as pessoas passam a maior parte de seu tempo.
Empresas de todos os portes abrigam pessoas de todos os tipos e não há como ser diferente.
Existe o multiculturalismo, a diversidade de crenças, de gênero, de preferências de todos os tipos, de ideologias e de formas de ver a vida.
Obviamente estamos falando de uma empresa, de um ambiente corporativo, voltado ao trabalho e à produção de resultados e isto é primordial em nossa análise.
O talento e a habilidade não possuem classificações pré-definidas e estão por toda a parte e em todas as formas sociais.
Diversidade nas empresas deve ser, portanto, um tema observado em todas as direções, sobretudo pelas gestões destas empresas.
Claro que os comportamentos devem ser modulados dentro destes espaços, já que a diversidade prevê exatamente o respeito aos múltiplos formatos de ver e viver a vida e não dá para criar na empresa uma “colcha de retalhos”, com um pedacinho para cada estilo.
Estamos falando de inclusão e não de divisão.
Uma empresa não funciona com estruturas fragmentadas.
O desafio é encontrar o que chamamos de “ambiente médio” onde todos se sintam bem, respeitados, valorizados, reconhecidos e livres para oferecerem o melhor de si.
Diversidade nas empresas começa por uma percepção humana de respeito, por parte de todos, sobretudo das lideranças, da não distinção de qualidade humana devido a opiniões, preferências de nenhum tipo ou características de gênero, ideologia ou comportamento.
Quando falamos em diversidade nossa sociedade ainda salta em direção a temas ligados à sexualidade e ao que entendem como promíscuo.
É natural a partir de nossas características de juízes de plantão permanente, mas não é justo, honesto e nem mesmo legal.
Diversidade envolve muitos outros aspectos além dos que se referem à sexualidade ou gênero.
Diversidade nas empresas é algo que precisa considerar múltiplos fatores, normalmente o melhor caminho é entender para onde apontam nossos preconceitos e esta já é uma forma objetiva e produtiva de começar.
Vamos falar sobre alguns aspectos que não estão necessariamente conectados com sexualidade e gênero, embora estes dois aspectos também possuam relevância quando o tema é diversidade nas empresas…
Idade
Aposto que você não tinha pensado em idade, em faixa etária, na discriminação que temos normalmente com pessoas acima e até abaixo de determinadas idades.
Todo mundo tem seu tempo e é claro que é responsabilidade de cada um a sua conexão com os aspectos evolutivos da vida.
Os “seniors”, principalmente, carregam um elemento que nenhum outro profissional pode oferecer: o tempo.
Ocorre que o tempo tem muitas variáveis e pode se apresentar de múltiplas formas.
Podemos estar falando de um profissional que, embora o tempo passe, saiba perceber as mudanças ambientais, de tecnologia, de comportamentos sociais, de novas formas de fazer as mesmas coisas que ele sempre fez de um outro jeito.
Em muitos casos, os próprios processos nos quais ele atuava simplesmente deixam de existir.
É um desafio para cada um de nós a manutenção desta conexão com a realidade de nosso tempo.
Seguir e entender a evolução não é uma tarefa fácil, mas é indispensável para que a pessoa consiga se enquadrar de forma útil no mundo e, mais especificamente, no ambiente corporativo.
De outro lado está a empresa, que tem todo o direito de exigir padrões mínimos de ajuste do perfil da pessoa de mais idade.
Ajudar estas pessoas a entenderem esta realidade irrefutável é parte da obrigação da empresa, pelo menos, do ponto-de-vista de justiça.
Criar e manter uma cultura que abrigue as pessoas de mais idade, proliferando a experiência, mantendo políticas de evolução profissional e reservar espaços para as pessoas que se enquadrarem nas necessidades da empresa, independentemente de sua idade.
O que cabe à empresa é exigir a evolução, mas também é seu compromisso estabelecer que idade não é um pressuposto de eliminação de nenhum processo de seleção ou de crescimento profissional.
Etnia
Etnia então é um dos tópicos onde ainda encontramos uma evidente resistência de boa parte da sociedade do ponto de vista de aceitação.
Não estamos julgando, até porque absurdos não merecem julgamento, estamos falando de uma realidade social evidente e velada, por vezes escancarada de preconceito de raça e de cor.
Que as empresas não devem realizar nenhum tipo de discriminação racial em suas fileiras é algo óbvio, até por tratar-se de crime com características hediondas, mas como instituição, cabe à empresa a responsabilidade não apenas de não discriminar, mas ao contrário, abrir as portas para a inclusão.
Não se inclui o negro discriminando o branco.
Que fique bem claro que não se trata de discurso ideológico radical de que é preciso excluir as maiorias para acoplar as minorias.
Nosso discurso também não tem a preocupação de ser “politicamente correto”, apenas salientamos que todos devem ter oportunidades iguais e, se possível, com alguma compensação aos que sempre ficaram à margem da sociedade por sua raça ou cor.
Orientação sexual e identidade de gênero
Quando nos concentramos no tema de diversidade nas empresas sempre nos chocamos cada vez mais com o que é constatação natural de nossa sociedade.
É meio como falar que não devemos matar pessoas, mas as pessoas continuam sendo assassinadas…
Não devemos roubar, mas as pessoas continuam roubando…
Não devemos nos preocupar com as escolhas sexuais ou características de gênero das pessoas, mas as pessoas continuam se importando e discriminando.
Existe sim uma ordem natural das coisas, incluindo de sexo e gênero, mas isto é completamente diferente da opção que cada um faz sobre a forma como quer viver e como se enxerga numa sociedade pretensamente livre.
As pessoas misturam estes dois aspectos como se fossem um só e não são.
Do ponto de vista biológico existe uma realidade constituída e imutável (até agora), onde menino nasce menino e menina nasce menina.
O que as pessoas não consideram é que existe a jornada da vida, o aprendizado, as experiências, as escolhas, as preferências e isto nos transforma o tempo inteiro.
Água e óleo não se misturam, portanto, não compare laranja com abacaxi, pois são diferentes em essência.
Diversidade nas empresas precisa considerar estas diferenças e multiplicidade de possibilidades.
As próprias siglas de definição de gênero não param de crescer, pois existem cada vez mais pessoas se identificando em perfis que não são sequer nominados ainda.
Uma empresa que não considera estes aspectos não exclui pessoas, exclui a si mesma do mercado.
Classe social
Diversidade nas empresas também envolve os aspectos de classes sociais.
Pessoas que possuem um histórico de vida não tão favorecido e que enfrentaram dificuldades gigantescas para conseguirem uma oportunidade.
Infelizmente não temos condições de resolver todos os problemas sociais de nosso povo e nossos representantes políticos não possuem isto como prioridade, mas como empresas, já fazemos uma grande diferença não discriminando pessoas por sua categoria social.
Algumas empresas criam ou se associam a projetos de inclusão social, abrindo espaços para abrigar profissionalmente pessoas oriundas destes espectros menos favorecidos da sociedade.
Ainda são poucas, mas fazem uma grande diferença e, embora este não seja o objetivo fundamental, o ganho em imagem institucional com este tipo de ação é poderoso.
Crenças
Diversidade nas empresas também precisa considerar os aspectos de crenças religiosas e filosóficas das pessoas.
Entenda que um ambiente diverso envolve a convivência de muitas pessoas de múltiplas vertentes de crenças.
Respeitar a todas, sem imposições, sem pregações e manter o ambiente isento é a melhor forma de respeito.
Ninguém pode ser discriminado por acreditar nesta ou naquela vertente espiritual, assim como a empresa não é um espaço de pregação, de tentativa de conversão ou de formação filosófica pessoal.
O diálogo sempre é aberto, mas a imposição não deve vir de nenhuma direção.
Diversidade nas empresas não deveria estar sendo discutido, talvez apenas à título de evolução do tema, mas infelizmente não é assim.
É claro que não estamos pregando espaços corporativos decorados como um cenário da “Gaiola das Loucas” ou com características de aldeia ou da “Escadaria da Lapa”…
Obviamente o respeito à diversidade nas empresas também subentende que entre multiplicidade cultural e social o espaço de convivência mútua deve ser o mais neutro possível e, portanto, sem tendências.
Não há política, ideologia ou discussões radicais no âmbito deste nosso conteúdo, apenas a racionalização sobre um tema que, por si só, costuma gerar polêmicas, a maioria até bem radicais e também não há espaço para extremos nas empresas, que precisam de equilíbrio para funcionarem em plenitude e em condições de gerarem o que todo mundo precisa, independente de opção, gênero, raça, credo ou cor: resultados.