Consultoria contábil é uma nomenclatura que você, empresário, deve fazer questão de utilizar, pois é preciso reconhecer que palavras têm força e poder de transformação.
É provável que muita gente determine como similares os escritórios de contabilidade, contabilistas, contadores, contadoria e tantas outras definições para as estruturas encarregadas do controle de contas de uma empresa, mas isto está mudando e é muito bom que seja assim.
Historicamente, o princípio da palavra é que se trata do fragmento do pensamento.
A palavra é ferramenta da comunicação e a comunicação expressa o pensamento, e é o pensamento que torna a ideia real.
Se este passeio filosófico é aceito como real, a forma como você denomina e trata a sua estrutura contábil é determinante para a forma como ela agirá profissionalmente.
Se você chama de escritório de contabilidade, então ela será um escritório de contabilidade…
Se você chama de contador, então esta estrutura será um contador…
Mas se você chama de consultoria contábil, tudo muda e esta organização terá que assumir o papel de consultoria, com muito mais envolvimento, inteligência gerencial contábil e comprometimento com suas ideias e posicionamentos.
Consegue perceber a diferença?
Consultoria contábil é um conceito que vem evoluindo de acordo com as mudanças provocadas pela modernidade e suas demandas.
Uma empresa funcionava de uma determinada maneira, até ser arrastada pelos movimentos de mercado provocados pelo avanço da tecnologia e, sobretudo, dos hábitos e comportamentos humanos (que também são resultantes da evolução tecnológica e sociocultural).
Os processos competitivos e os cenários cada vez mais exigentes requerem muita movimentação na parte gestora dos negócios e as decisões precisam ser mais rápidas, quase instantâneas e nem por isso podem perder qualidade, precisão e confiança, já que quaisquer pequenos desvios de rota podem ser determinantes para o sucesso ou fracasso de iniciativas empreendedoras.
Claro que a base do conjunto decisor possui um elemento único e valioso: a informação.
Tudo o que o gestor decide está apoiado por objetivos de seu empreendimento, as condições ambientais e temporais e o mais importante: informações que determinem com exatidão a real situação de seu negócio diante do cenário e da necessidade de decisão.
Apontar caminhos…
Decidir é meio como navegar e não se trata apenas de escolher a rota mais curta (o que também é considerado), já que a informação é composta de muitas variáveis, considerando custos, riscos, comportamentos, consequências em vários campos de análise.
O fundamental para a existência de um empreendimento vencedor é a sua capacidade de adaptação constante e isto está atrelado ao potencial de percepção do ambiente, das mudanças de cenário, de variáveis, mas não apenas perceber uma mudança quando ela explode entre estrondos e labaredas, mas os sutis sinais antecipados de que isto ou aquilo está se comportando de uma forma diferente.
É isto que faz com que a contabilidade esteja se transformando rapidamente em consultoria contábil.
Uma consultoria contábil desmistifica aquela visão do velho e engessado escritório de contabilidade, normalmente conectado com aquela visão de “guarda-livros”, quando os livros ainda eram a essência da contabilidade.
Isto se refere a um tempo em que contabilidade era apenas uma ação de enquadrar dados em planilhas e controles que serviam, basicamente, para atribuir tributações, obrigações contábeis e manter regularidade fiscal.
A necessidade nos dias atuais é de estruturas muito mais modernas, o que dá sentido ao conceito de consultoria contábil, que segundo especialistas, será a única forma de sobrevivência dos serviços contábeis daqui para diante, pois afinal, para todos envolvidos num processo de gestão, direta ou indiretamente, a finalidade é apontar caminhos para a ponta decisora e isto não se faz com dados, mas com informação.
Contabilidade consultiva é uma espécie de versão 4.0 da contabilidade, algo muito mais sintonizado com os tempos e demandas atuais.
Em nosso passeio através do tema, podemos resumir, a grosso modo, que a contabilidade 1.0 se refere aos tempos primordiais, dos pesados livros e as escritas com pena, para registrar movimentos simples de entrada e saída de produtos ou serviços, algo quase inócuo para a tomada de decisões.
A estrutura contábil externa, quando as empresas passaram a adotar escritórios de contabilidade fora de suas instalações, como uma prestação de serviços terceirizada, com uma amplitude maior nos controles e uma aproximação igualmente maior à gerencia pode ser visto como a contabilidade 2.0.
A contabilidade 3.0 é o espaço reservado à contabilidade gerencial, esta já bem moderna, surgida a partir do início do século atual, com uma aproximação maior do gerenciamento e decisão das empresas, o que ocorreu a partir da consciência de que é necessário controle absoluto sobre todos os detalhes das operações, para que os resultados sejam atingidos.
Eis que chegou uma época em que constatações já não eram mais suficientes.
Saber quanto comprou, gastou, vendeu ou rendeu já não era suficiente para avaliar um elemento que passou a fazer parte da mesa decisora de forma muito rápida e continua em constante transformação, quase em tempo real: o futuro.
Foi neste cenário que surgiu e vem ganhando corpo a contabilidade consultiva, ou o que podemos chamar de contabilidade 4.0. ou ainda, consultoria contábil.
Decidir a partir do passado com foco no futuro.
O desafio do empreendedor deixou de ser a subsistência de seu empreendimento, pois vai longe o tempo em que seu concorrente era a loja ao lado, ou até na mesma cidade.
A concorrência agora vem do mundo todo.
O comércio sente isto de forma bastante agressiva, pois o tênis que você comprava na loja física de sua cidade, está disponível num portal digital na mesma marca e modelo, com prazo de entrega, muitas vezes, de menos de 24 horas, com um valor que chega a ser 10, 20, 30% inferior (ou até mais), pois no processo digital conhecido como ecommerce, não costumam incidir os custos de uma loja física, como aluguel, custos fixos mobiliários e operacionais, comissões, dentre outros.
Isto acontece em vários segmentos da economia e da atividade humana.
O problema do empreendedor deixou de ser o que seu concorrente do outro lado da rua está “bolando” para atrair mais clientes, mas o que está acontecendo no mundo para atraírem os clientes de todo mundo.
Este é momento em que o gatinho conhece o tigre.
A chance de ser devorado é muito grande.
Enquanto discutíamos filosoficamente se era justa a relação de trabalho dos chineses, vietnamitas e indianos com o trabalho e a mão-de-obra deles, que considerávamos exploração, gostando ou não eles avançavam e dominavam o mundo controlando a manufatura de quase tudo que é industrializado.
Atuar com decisão transformadora a ponto de adotar medidas inovadoras e contemporâneas, proporcionando agilidade, redução de custos, qualidade e tudo que proporcione competitividade com concorrentes tão preparados e poderosos, passou a requerer inteligência de negócios como nunca antes.
O surgimento da contabilidade gerencial…
A contabilidade precisou seguir este rastro, pois as velhas estruturas, mais acomodadas, também começaram a sentir o baque.
Quando antes um escritório de contabilidade tinha 80% de sua atividade centrada em abastecer sistemas e planilhas com dados operacionais de seus clientes, surgiram sistemas informatizados, que aplicado às empresas, captavam organizadamente toda a informação contábil, fiscal, tributária e até gerencial por período e em tempo real, com elevada precisão, derramando informações gerenciais de qualidade sobre a mesa dos gestores.
Foi uma corrida linda e desesperada dos “escritórios de contabilidade” visando encontrar uma função para si mesmos diante de toda esta avalanche de transformação.
As melhores empresas de contabilidade acompanharam a evolução e, mesmo tendo que “correr atrás” em vários momentos, conseguiram assumir uma postura de efetiva utilidade durante a transformação e passaram a aplicar conceitos mais modernos, comprometidos e envolvidos com a gestão, o que passou a ser conhecido como contabilidade gerencial.
A ação passou a ser exercida em conexão direta com a gestão e o tipo de informações captadas e apresentadas tinham enorme importância para embasar as decisões de destino das empresas.
Isto foi realmente a maior evolução da contabilidade até então e se intensificou em tempos bem recentes.
É provável que nenhuma empresa consistente, nos dias de hoje, tenha como existir sem contar com apoio de uma contabilidade gerencial competente.
Claro que todas as outras atividades inerentes à contabilidade não podiam deixar de ser realizadas e isto fez com que a evolução da contabilidade fosse feita em degraus, com uma base de sustentação que ainda prevê o preenchimento de guias, documentos e controle das condições fiscais e tributárias, mas o universo de relatórios, ferramentas gerenciais e decisoras ampliou exponencialmente.
O surgimento da contabilidade consultiva…
Não pense que o tempo parou por aí, até porque todos somos testemunhas de um infindável avanço em quase todos os campos da atividade humana e com a contabilidade não seria diferente.
O desafio de acompanhar tamanha evolução criou mutações no conjunto de serviços oferecidos pela contabilidade e um outro salto foi dado, quase sem percebermos ou premeditarmos.
De repente o empresário se viu desafiado a tomar decisões de médio prazo com muito maior precisão.
Contratos futuros começaram a habitar as mesas decisoras e o gestor precisava decidir, rapidamente, se topava aquela proposta ou não, pois existiam muitos concorrentes aguardando aquela oportunidade…
Mas como decidir sobre um futuro que ainda não aconteceu e só pode ser projetado a partir de tendências?
Desafiador demais e qualquer passo em falso, com decisões mal embasadas, informações desencontradas, cálculos super ou subestimados, colocaria não apenas o contrato a perder, mas até a própria credibilidade e existência da empresa.
Foi neste vácuo que surgiu a contabilidade consultiva e a contabilidade passou a ser entendida como consultoria contábil, quando um misto entre a apuração de números realizados serviu para projetar movimentações futuras e através das técnicas de análise estatística e até versões atuariais de avaliação em forma de prognósticos, passaram a ser peças fundamentais na composição das decisões.
A contabilidade passou então a assumir um papel de consultoria e isto elevou seu status a contabilidade consultiva e a própria ciência vem mudando de nome, para consultoria contábil.
A diferença…
A diferença básica entre contabilidade gerencial e contabilidade consultiva é a amplitude de seu poder dentro da linha de decisão de uma operação empresarial.
Hoje em dia toda a contabilidade que se prese é gerencial, mas não são todas que já evoluíram ao status de contabilidade consultiva.
Enquanto a contabilidade gerencial apoia decisões a partir de informações e relatórios gerenciais, a contabilidade consultiva propõe, é ativa, instiga, aponta oportunidades que nem mesmo o gestor, muitas vezes, chegou a perceber.
A contabilidade consultiva aparece nas reuniões com soluções para problemas que ainda sequer foram percebidos e, se foram notados, as soluções ainda estão na esfera do “achômetro” e a contabilidade consultiva aporta informações e prognósticos confiáveis sobre potenciais comportamentos e respostas a determinadas medidas.
Um contrato futuro, por exemplo, onde um fornecedor se compromete a oferecer determinada quantidade de produtos ou serviços a um comprador, com características muito específicas, em condições de entrega também bem personalizadas, envolvendo vários atores, com cláusulas rígidas de sanções em caso de quebras ou imperfeições em algum ponto do contrato, representa uma oportunidade importante para o crescimento do negócio.
O problema é que nada cai do céu e é preciso saber avaliar se este contrato tem condições de ser cumprido, quantos fornecedores estarão envolvidos, como deve funcionar a linha de produção, a logística, a entrega, como financiar tudo isto?
Muitas são as variáveis, como os insumos, de onde surgirão, os fornecedores parceiros na empreitada darão conta do recado?
As variáveis não são mais apenas as suas, mas de todos os envolvidos na cadeia daquele fornecimento.
Como calcular variações, margens de falha e erro, planos de contenção, tudo o que envolve o cumprimento daquele contrato.
O que costuma acontecer é que muitas empresas, ao se depararem com uma condição como esta, param de ver o negócio como uma oportunidade e passam a entender como uma cadeia de riscos, que pode comprometer a credibilidade, saúde mercadológica e financeira do empreendimento e até a sua própria continuidade existencial.
O que era para ser uma solução acaba virando um problema.
É nisto que a contabilidade consultiva se destaca, com a precisão em projeções a partir do realizado historicamente.
Uma ciência capaz de apoiar o gestor a entender as movimentações de custos de todos os tipos, de insumos, de operação e logística, de produção, de disponibilização do que é contratado, em devidas condições de utilização, dentro do que o contrato prevê e nos prazos combinados.
A contabilidade consultiva, como podemos perceber, vai bem além da contabilidade gerencial, pois se apoia exatamente em tudo o que a contabilidade gerencial é capaz de produzir, para gerar informações necessárias e precisas, que apontem direções seguras e viáveis para as decisões do gestor, muitas vezes, sem ele sequer perguntar ou perceber a lacuna de oportunidade.
Consultoria contábil é, portanto, não apenas um avanço, mas uma evolução natural de uma ciência que antes fazia contas e hoje apoia decisões relevantes para o mundo empresarial.
Consultoria contábil não é para qualquer um, principalmente quando falamos do ponto de vista do profissional de contabilidade.
Tente se imaginar como um profissional de contabilidade, o ambiente onde você trabalha hoje, o funcionamento de sua estrutura e imagine alguém de sua empresa oferecendo um relatório de apoio a uma decisão futura de algum de seus clientes.
Ou melhor ainda…
Tente imaginar um cliente tradicional de seu escritório de contabilidade entrando na segunda-feira pela manhã na sua sala, com um papel na mão e perguntando se é interessante ou não ele fechar um determinado acordo de fornecimento para um importante cliente dele, do outro lado do mundo, envolvendo milhões de dólares, o que consiste numa oportunidade incomparável, mas com a pressão de ameaças contratuais severas, que podem impor o fim da existência da empresa caso as cláusulas não sejam cumpridas.
Se você se sente preocupado com o tamanho da responsabilidade que sua empresa de contabilidade estaria assumindo ao se comprometer com as orientações, então você ainda está longe de trabalhar com contabilidade consultiva e de poder se definir como uma consultoria contábil.
Se você começa sua fala dando desculpas e deixando claro que se exime de qualquer responsabilidade sobre sua opinião, então sua opinião não possui credibilidade e provavelmente, seu cliente vai atrás de alguma opinião técnica, sustentável e de credibilidade, a ponto de o próprio emissor da opinião ter confiança suficiente para se responsabilizar por ela.
É disto que falamos quando nos referimos à consultoria contábil.
Você consegue se imaginar entrando no escritório de seu principal cliente com um estudo aprofundado demonstrando que ele tem uma grande oportunidade de crescimento à sua frente, a partir de informações que você compilou de sua própria operação, mas que ele ainda nem percebeu?
Se você entende que seu lugar é quietinho em seu canto, cumprindo bem aquilo que se espera de sua atividade contábil, saiba que muito em breve seu cliente pode ser alertado destas oportunidades por outra pessoa, ou até por um concorrente seu e sua trajetória como empresa de contabilidade pode começar a ficar comprometida.
É disto que falamos quando nos referimos à consultoria contábil.