Identificar talentos é uma espécie de garimpo, já que estamos falando de verdadeiras joias e, como tal, não são fáceis de achar.
Obviamente fica muito mais fácil se buscarmos estas joias nas jazidas certas e onde as condições, digamos, ambientais, favoreçam à existência destas preciosidades.
Não se trata de um texto irônico (embora a ironia seja uma consequência), pois estamos falando de uma realidade indesmentível em nosso cenário nacional, onde encontrar pessoas realmente capacitadas a oferecer RESULTADOS a partir de sua atuação tem se tornado uma verdadeira loteria, onde muito poucos conseguem a contemplação.
Diversos aspectos do cenário brasileiro dificultam o surgimento de talentos profissionais em todas as áreas e isto tem clara explicação antropológica.
O fato é que pessoas continuam sendo o elemento diferencial de qualquer projeto, o que realmente pode modificar o cenário e trazer melhores resultados, e este “ativo” fica cada vez mais valorizado, na mesma medida em que constatamos problemas em localizar este tipo de talento.
Este tem sido um desafio para as empresas que insistem em melhorar sempre e consolidar seu modelo de negócios.Nosso passeio neste artigo, vai identificar as principais causas de tamanha dificuldade em proliferar talentos e o que devemos fazer com eles quando os localizamos.
Identificar talentos deve ser prioridade para qualquer empresa que vise o sucesso, pois são as pessoas que operacionalizam tecnologias, sistemas e equipamentos, já que muito pouco ou quase nada opera sozinho.
O primeiro passo é reconhecer o básico, que uma empresa não é apenas um projeto composto por equipamentos, infraestrutura, uma ideia vencedora e investimentos.
Uma empresa vai muito mais além e sua essência é o engajamento e a motivação das pessoas que farão todo o conjunto funcionar.
Nada vale absolutamente nada se as pessoas que serão responsáveis pelas execuções não possuírem o senso vencedor e a motivação necessária para dar o melhor de si.
Quando você recebe um currículo de alguém pretendendo um determinado posto ou colocação, constata que, diante de si, existe uma verdadeira pérola em forma de pessoa.
As habilidades, capacidades, talentos, predicados, o conjunto de formalizações que constrói aquele pretendente é magnífico e se pessoas fossem carros, certamente você estaria diante de uma admirável Lamborghini.
Não é bem assim que se prova na prática.
Num currículo, ou numa entrevista, não são apresentados os problemas inerentes aquele tipo humano.
Todos nós temos os nossos problemas e, certamente, um currículo não parece ser o melhor lugar para expor nossas fraquezas e deficiências.
O que acontece então?
Um jogo complexo de tentativa e erro, uma novela de dissimulação se estabelece e a sorte está lançada.
De um lado, um empregador interessado em encontrar alguém que resolva sua necessidade e aporte soluções ao seu projeto.
De outro lado, um pretendente ao cargo que, em primeiro lugar, normalmente, precisa daquela colocação e, em segundo lugar, busca tranquilidade, vantagens e direitos.
Antes que você, leitor, pense que se trata de uma peça de crítica política, entenda que este artigo trabalha com argumentos absolutamente verdadeiros e consistentes, perfeitamente comprováveis ou inquestionáveis, e o que pode parecer ironia ou julgamento é, na verdade, plena constatação de nossa realidade brasileira.
Nossos profissionais não são preparados para serem empreendedores deles mesmos e, ao contrário, são preparados, durante a vida toda, para serem empregados, amordaçados a um regime trabalhista que os manterá assim, até uma aposentadoria normalmente murcha e desmotivada.
Esta realidade cria um novo obstáculo para o empreendedor formar uma equipe vencedora.
A maior parte da “massa de trabalho” é limitada por vários aspectos, a começar pela cultura educacional, que desde a Revolução Industrial possui a mesma matriz, que é a de produzir “mão-de-obra” farta e barata para apertar os parafusos da indústria de transformação ou operadores comerciais padronizados.
Associado a isto, temos o nosso perfil latino indolente, que não gera muitas ambições evolutivas e a acomodação tende a ser um atrativo muito poderoso, normalmente limitando a motivação e o interesse em crescimento e autodesenvolvimento nas pessoas.
Esta é uma visualização genérica do cenário onde humanos viraram apenas um recurso, pois é assim que se posicionam, a ponto de as empresas estabelecerem verdadeiros departamentos denominados RECURSOS HUMANOS, ou seja, a anomalia virou padrão aceito e proliferado.
E os talentos?
No meio deste cenário nada promissor, existe uma minoria de pessoas que nadam contra a correnteza em busca de melhores resultados e oportunidades.
Estes são os raros talentos dos quais tratamos aqui.
Independente da realidade em que vivemos, mais precisamente, em nosso País, existe uma parcela de pessoas “diferenciadas” e o termo é bem adequado, pois elas fogem dos perfis tradicionais.
Algumas destas “joias” possuem uma perspectiva diferente, mais universal, menos atrelada aos padrões convencionais de encontrar uma “zona de conforto” e ali se aninhar, sossegadamente, esperando a morte chegar.
Estas pessoas entendem que sua carreira é mais do que encontrar um trabalho, que resulte num salário, que possibilite comprar arroz, cerveja e conforto.
Para este grupo valioso, a carreira vem antes do emprego e a percepção é de que seu talento é fonte de transformação, carregando seu destino através de suas próprias mãos, obtendo sempre os melhores resultados e, com isto, ganhando notoriedade, resultado de vida e um espaço mais amplo, no topo, entre os melhores.
São várias as características deste tipo de perfil e parte do trabalho do empreendedor é identificar estes talentos, alimentar seus instintos e ambições e produzir um ambiente capaz de se tornar atraente para que estes profissionais diferenciados queiram estar sempre ali, o que convenhamos, não é exatamente fácil.
Sabemos que estamos lidando com raridades e somos sabedores também, que estas pessoas se destacam naturalmente e são muitos os olhares que se debruçam sobre estes indivíduos especiais, o tempo todo.
O jogo fica mais agressivo quando estas raras figuras passam a ser cobiçadas por outros empreendimentos, muitas vezes, concorrentes e manter sua proposta sempre interessante é outra parte complexa do desafio.
Os passos do labirinto são:
Identificar um talento só é possível para quem sabe determinar o que é um talento e, por mais que pareça lógico, existe muita controvérsia sobre uma definição de talento.
O pesado mundo corporativo costuma definir um talento a alguém que se molda com facilidade ao contexto corporativo, que assimila rapidamente a personalidade do empreendimento, se adaptando e executando as tarefas no ritmo desejado pela empresa.
Certamente este tipo de definição surgiu de um empreendimento centralizador, atrasado e engessado no passado, pois nos dias atuais, no atual cenário, onde a INOVAÇÃO é um diferencial competitivo inalienável, não existe espaço para um colaborador assim.
Como pretender que algum talento deseje se engessar junto com a empresa, obedecendo moldes e tolhendo sua capacidade de inovação, de aplicar propostas disruptivas e reinventar processos?
Um talento é, antes de mais nada, alguém capaz de aportar soluções criativas e inovadoras.
É possível elencar as 5 principais características de um talento no universo corporativo:
Certamente são várias as habilidades encontradas num grande talento, mas apontamos estas 5 como fundamentais para que, além de talentoso, ele esteja sintonizado com os tempos modernos, além de apto a manter constante aprendizado e com potencial de tornar real as suas ideias inovadoras.
Ter criatividade é um ponto indispensável, pois a criatividade é a ferramenta solucionadora que a inteligência oferece.
Ousadia é uma marca de autoconfiança e é necessária para quem vai gerar transformações, pois coisas diferentes precisam de atitudes diferentes para acontecer.
Capacidade de aprender é a principal ferramenta de alguém com potencial de evolução, pois o que se sabe sempre importará menos do que a capacidade que tenhamos de aprender o novo.
Capacidade de realização é o talento de conseguir colocar na prática toda a teoria desenvolvida.
Motivação é o combustível do realizador e sem motivação até os maiores talentos se perdem e não possuem valor nenhum.
Um talento é, portanto, alguém com o ímpeto de crescer, de se enxergar merecedor de algo mais e que se demonstra inquieto com a monotonia nos projetos.
Um talento é um potencial, normalmente reprimido, que só precisa da chance e oportunidade certas para apresentar seus diferenciais, cabendo aos observadores perceberem que ali está alguém promissor.
Um talento pode ser qualquer um, por isto os mineradores de talentos são tão importantes, pois existe o consenso de que a maioria dos grandes potenciais talentos sequer são conhecidos, por falta de oportunidades que possibilitem a sua exposição.
Nunca deixe de olhar em volta com atenção.
É por isto que uma empresa inteligente mantém alimentados sistemas e processos que favoreçam a identificação de talentos, o tempo todo.
Identificar talentos começa por uma mudança de percepção por parte da empresa, na direção de que ela precisa se preparar para esta mineração e esteja apta, tecnicamente, a perceber um talento e criar as condições para sua manifestação e evolução.
São muitos os processos que podem ser implementados neste sentido, mas sem dúvidas, a missão só será bem sucedida se a empresa absorver esta estratégia como parte de sua cultura, algo que não é tão simples na visão do mundo corporativo duro e inclemente, mas a transformação já está acontecendo, pela pressão que a fuga de talentos provoca nas empresas que não trabalham bem estes processos.
Talentos são talentos e possuem enorme valor, sendo só uma questão de tempo para encontrarem um lugar de maior e melhor valorização.
Perde quem não se agiliza.
1 – Estruture e invista em processos de seleção inteligente:
Fuja do tradicional e espante currículos, que hoje mais parecem manuais de propaganda pessoal, pois como já dissemos, não trazem problemas e defeitos, somente as qualidades.
Os processos de seleção inteligentes aplicam experiências comportamentais, avaliam habilidades como senso crítico das pessoas, potencial de gerenciamento de crises e de tomada de decisões.
É como um sistema de teste de um equipamento, que eleva o nível de estresse do componente para avaliar suas reações, resistência, resiliência, capacidade de apresentar soluções quando sob pressão e outras variáveis que não vêm expressas nas letras frias e burocráticas de um currículo.
Defina e estabeleça sistemas inovadores de lidar com pessoas, fugindo do engessado e velho RH e indo mais para um lado filosófico de GESTÃO DE PESSOAS.
2 – Conheça os perfis de personalidade que seu empreendimento necessita:
Não fique colocando o pianista no trombone de vara ou o violinista tocando tímpano.
Tenha a consciência do perfil de personalidade e de habilidades que sua empresa necessita e busque estas características nas pessoas que comporão o time.
Não reinvente a roda sem necessidade e nem espere que ovelhas subam em árvores ou jacarés voem.
Seja técnico e responsável com suas contratações e entenda as pessoas como um dos principais investimentos que você faz, tratando a situação com este nível de consciência e responsabilidade, e não empregando amigos ou indicações políticas, pois já temos bem claro como funcionam os empreendimentos que não profissionalizam a sua profissionalização.
3 – Tenha um setor de gestão de pessoas atento e ativo:
Faça com que seu departamento de gestão de pessoas tenha o foco na descoberta e evolução de talentos, considerando, sobretudo, a capacidade de adaptação das pessoas diante de seus desafios extras e cotidianos.
Monitorar estes movimentos aponta sinais evidentes, nem sempre percebidos, de engajamento das pessoas com a empresa, seus níveis de proatividade, sua atitude solucionadora e sua postura realizadora.
A liderança também é evidente na prática e no trato diário e, enfim, tudo está exposto e o maior esforço da gestão de pessoas é ter recursos, habilidades e capacidade de perceber.
4 – Mantenha constante monitoramento individual:
Obviamente identificar talentos passa por formar equipes, já que o trabalho corporativo traz a ação conjunta em seu próprio nome.
Ocorre que as equipes são a soma de seus indivíduos e é nas individualidades que as habilidades habitam e devem ser percebidas e monitoradas.
Uma equipe exerce diversos efeitos sobre seus indivíduos e nem sempre são positivos, mas ter a verdadeira noção de cada potencial individual tem o poder de abrir caminhos para seu desenvolvimento, levando à melhoria da equipe e de todo o conjunto, como consequência natural.
5 – Invista em atividades desafiadoras:
Não deixe que sua gestão de pessoas adormeça no berço esplêndido do conforto e crie e mantenha programas de evolução bem desafiadores.
Programas de trainee, de competitividade com premiações em forma de promoções, bancos de ideias constantemente alimentados e com premiações interessantes, destaques por evolução e uma série de outras estratégias engajadoras, motivadoras e transparentes.
6 – Justiça no programa de evolução:
A justiça e a transparência devem ser marco fundamental na gestão de pessoas e isto deve ser claramente percebido por todos, dentro e fora do empreendimento, a ponto de ser inquestionável, o que motiva as pessoas a participarem com a confiança de que, dando o melhor de si e evoluindo, serão recompensadas.
A forma mais poderosa de reconhecimento está associada às escalas de promoções, que estabelecem uma espécie de jogo sadio de mérito, o que faz com que todos se movam na direção da evolução.
7 – Tenha e pratique programas de comunicação abrangentes e transparentes:
Identificar talentos passa por criar e manter sistemas de comunicação justos, honestos, transparentes e universais.
Tudo o que envolver a atuação humana deve ser transparente e justo e todos os requisitos, índices e métodos de avaliação e quaisquer outras movimentações associadas à evolução humana na empresa, precisam ser claramente comunicados e transparentes, para que a confiança seja o catalizador de todas as atitudes e esforços, de todos os envolvidos.
8 – Coloque o capital humano como o mais valioso ativo de sua empresa:
Identificar talentos requer que o talento tenha a percepção de seu valor e, mais importante ainda, que ele perceba que seu valor é reconhecido pela empresa.
Já afirmamos que o principal ativo diferencial de uma empresa são as pessoas, porque somente elas podem promover a diferença em qualquer projeto.
Máquinas são sistêmicas, processos são sistêmicos e sistemas são sistêmicos, somente as pessoas podem aplicar o diferencial criativo transformador nos processos e esta pode ser a diferença entre sucesso e fracasso.
Demonstre clara e abertamente que a empresa entende o valor das pessoas e que faz a sua parte em criar totais condições para a melhor ambientação e execução das atividades humanas, com espaço para criatividade, ideias, experimentações e até erros controlados, pois as grandes descobertas acontecem depois de exaustivas tentativas e erros.
Mostre que o capital humano é valioso e ele se aninhará ao seu lado e em sua defesa e desenvolvimento.
Identificar talentos deveria ser a principal atividade de toda e qualquer empresa, em qualquer segmento e em qualquer canto do mundo.
Independente de cultura, região ou atividade, o capital humano é o componente que pode proporcionar a inovação tão necessária para gerar ideias que melhorem resultados.
Fugir da perspectiva retrógrada e ultrapassada de contratar “empregados”, que veem a si próprios como “apertadores de parafusos” é o primeiro passo transformador.
Estabelecer em sua empresa uma perspectiva de um lugar moderno, dinâmico, inovador, revolucionário, que premia ideias, que dá suporte à inovação, que incentiva a criatividade, e que isto não seja uma ação de marketing interno, ilusória, mas que seja real e sensivelmente efetiva, tem um poder transformador gigante e incomparável.
Abrigar o talento é tão importante quanto identifica-lo e abrir braços e portas para sua chegada e permanência é a base da construção de uma empresa carregada de talentosas pessoas.
Quando o conjunto do ambiente é favorável, não é qualquer proposta que retira um talento daquele lugar.
Estudos respeitados no mundo inteiro, como o realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), realizado em 2019, em nível mundial, apontam que o salário é apenas o terceiro principal item de interesse pelas pessoas empregadas.
O primeiro, para espanto de quase todo mundo, foi o RECONHECIMENTO.
Talvez este tipo de informação sirva para abrir os olhos de quem precisa enxergar a realidade, que é muito distante do que a maioria dos responsáveis pelo universo do trabalho imaginavam.
A boa notícia é que o mundo está em constante transformação, que na maior parte das vezes só é sensível quando as pessoas talentosas começam a migrar do ultrapassado das corporações para o universo inovador das startups, dos novos empreendimentos, dos negócios revolucionários, que por mais que pareçam complexos, obtém sucesso por sua tremenda simplicidade, inteligência, lógica e espaço para o desenvolvimento dos talentos humanos.
Em que lado você quer estar?