Contabilidade, como tudo, está em constante evolução, muda e ajusta mecanismos e processos, agrega tecnologia e soluções científicas, se adapta aos novos tempos e carrega consigo o estigma de ter que estar em constante sintonia com os complexos caminhos da legislação e das operações gerenciais.
Contabilidade não tem outra finalidade que não seja a de exercer uma função de apoio gerencial amplo, exatamente no elemento mais decisivo para qualquer empreendimento, que é o resultado econômico e financeiro da operação.
Contabilidade é mais valorizada exatamente nas economias mais desenvolvidas, e isto se explica, pela percepção que as pessoas possuem com relação ao empreendedorismo nestes locais.
É uma questão de maturidade de mercado, a capacidade de entender o quanto o controle absoluto é fundamental para o sucesso de qualquer empreitada empreendedora.
Países mais carentes de uma visão empreendedora, costumam olhar para a contabilidade como se fosse um braço do governo, do fisco, da receita, dos órgãos de controle das relações trabalhistas, que está infiltrado nas entranhas do empreendimento, feito espião, pronto para tocar sirenes e alarmes, que trarão exércitos de fiscais, a cada pequeno erro ou problema.
Contabilidade é muito mais que isto.
Contabilidade não nasce feito erva daninha nas estruturas de sua empresa, ela nasce junto, como parte integrante de todo o conjunto, e altamente necessário, como um órgão num corpo vivo, que existe, até para que ele se mantenha vivo.
Esta é uma boa visão sobre a contabilidade, uma ótima analogia, para proporcionar uma compreensão mais saudável, amigável e, sobretudo, mais conectada com a realidade.
Qualquer empresa ou ação que gere contexto econômico, carrega consigo a contabilidade, de alguma forma, em alguma proporção.
Quando o seu Joaquim, do armazém da esquina, abre as portas e atende seu público, algum registro ele guarda das suas operações, mesmo que sejam simples anotações em algum caderno que fica em meio aos seus apetrechos, todos os dias.
Em algum lugar, seu Joaquim guarda informações, mesmo precárias, sobre quanto vendeu, quanto faturou, quanto precisa pagar aos seus fornecedores, quem ficou devendo, quanto valor ele tem para receber de seus devedores, quanto tem que pagar aos seus credores, dentre algumas outras informações de movimentação que são indispensáveis, e que não podem ser guardadas de memória.
Considere que estamos falando do seu Joaquim, que não se preocupa muito com controles mais aprofundados, até porque, os anos de experiência fizeram com que ele criasse uma “casca grossa” em suas operações comerciais.
Provavelmente o seu Joaquim nunca deixará de ser o seu Joaquim, e talvez nem queira.
Provavelmente ele nem sabe com certeza, além da própria sensibilidade, que tipo de produto vende mais, qual sabor de picolé tem maior giro, qual a preferência do seu “freguês” quanto aos sabores dos sucos que vende, ou as marcas preferidas de cerveja, ele apenas tem uma ideia e segue seu instinto.
Qualquer análise mais complexa, que envolva estatística verdadeira de consumo de seus produtos, fica distante do conhecimento do seu Joaquim.
Conhecer com precisão e eficácia os seus resultados, lucro bruto, lucro líquido, despesas variáveis, custos fixos, retorno sobre capital investido, tudo isto fica muito distante, quase inatingível, e mesmo que ele tenha consciência desta necessidade, provavelmente não terá como encontrar os números que resultem em informações confiáveis.
É bem provável que seu Joaquim tenha sua atividade limitada, não consiga evoluir e crescer, por falta de ferramentas gerenciais, e continue no mesmo tamanho, atrás do mesmo velho balcão, pelo resto dos seus dias.
Pode ser que o resto de seus dias terminem com a chegada de algum fiscal tributário do governo, querendo ver as contas do seu Joaquim, ou de algum concorrente melhor adaptado aos novos tempos, com controle mais aprofundado de suas operações.
Este é o ciclo da evolução no mundo empresarial, o que determina que a contabilidade pode ser apenas um mecanismo simples, anotado num caderninho, ou evoluir para um conjunto completo de informações gerenciais, que demonstram cada mínima movimentação em todas as pontas do empreendimento, pronta a apontar riscos, oportunidades e desempenho de tudo o que está envolvido, em tempo real, com plena confiabilidade.
A contabilidade é, portanto, um agente informativo e gerencial que nasce junto com qualquer negócio, um pulmão, ou um fígado, ou um órgão vital qualquer, imprescindível para a saúde do organismo, determinante para a saúde e integridade do conjunto.
Contabilidade é vista, pela maioria, como um aglomerado de burocracia de todos os tipos, com complexos mecanismos que levam empresários e outros personagens dos empreendimentos, quase à loucura com alguns processos.
Ledo engano!
O problema é nossa percepção latina falha com relação a procedimentos padronizados e sistemas de controle, pois eles impõem a disciplina e a organização, algo que passa longe de nosso instinto natural, latinizado, de levar a vida.
Qualquer processo que requeira um regramento em nosso comportamento, nos parece enfadonho, chato, incomodativo e procuramos fugir dele.
“Já tenho que vender, desdobrar o cliente e o negócio, e ainda querem que eu anote tudo?”
Sim cara pálida!
Imagine que sua negociação genial, onde você deu o melhor de seu persuasivo talento, resultando num negócio fantástico, sob todos os aspectos, não seja registrada em nenhum lugar, não traga informações sobre o quê foi vendido, em que condições, quais as formas de pagamento, entrega, garantia, utilização, valores, observações especiais, e tudo o que se refere aquele negócio…
Basicamente, sua venda não aconteceu…
Você fez um gol de placa e ninguém viu, sequer aparece na súmula, porque até uma partida de futebol tem contabilidade, quando alguém anota os acontecimentos da partida, as advertências, os gols, o público presente, pagante ou não, a quantidade de pessoas envolvidas no trabalho do evento…
Mas você acredita que anotar as informações de sua venda, para abastecer os canais adequados que controlam tudo, inclusive seu desempenho, são “um saco!”
É esta percepção de controle e disciplina, de que temos obrigações que precisam ser cumpridas, e que isto precisa ser feito de determinada maneira, que nos afasta de qualquer simpatia com processos que envolvam registro e organização.
Temos uma notícia para você…
Pouco importa esta sua percepção sobre a contabilidade, primeiro, porque ela está equivocada, e segundo, porque é irrelevante se você gosta ou não do seu fígado, ele é indispensável para a sua sobrevivência, assim como a contabilidade é para a sobrevivência de qualquer iniciativa empresarial.
Esta frase de Bacon é definitiva quanto a percepção que se deve ter sobre a importância do controle absoluto sobre tudo.
Isto vale para todos os aspectos da vida, mas se torna muito mais sensível, num projeto empresarial, que envolve operações comerciais, de produção, de relações com governo, fornecedores e comunidade em geral.
“Tudo o que pode ser medido pode ser gerenciado, o resto está à deriva!”
Esta frase singular e definitiva de Falconi define claramente a importância do controle sobre tudo o que acontece numa empresa.
O princípio é originado nos principais e mais bem-sucedidos métodos globais de gerenciamento, onde o controle é a base de tudo.
Não pense que as pessoas escolheram o controle geral como uma opção, os mais sábios, apenas identificaram o controle como algo imprescindível para compreender o que estava acontecendo com o negócio, enquanto estava acontecendo, de forma que eles pudessem interceder sobre o problema, enquanto era tempo, para evitar que ele causasse maiores transtornos.
Ao contrário de observarmos o desaparecimento do seu Joaquim e de sua operação profissional com seu humilde armazém, vamos focar num outro cenário, onde seu Joaquim se antenou a tempo, e percebeu que precisava se modernizar, se adaptar às novas realidades competitivas, encontrando soluções para não ficara para trás.
“Seu Joaquim”, do alto de sua visão empreendedora, entendeu que precisava cuidar de seu negócio e implementar uma visão de lucro.
Devido a uma tendência paternalista em nossa cultura latina, se convencionou associar o lucro a uma percepção exploradora, onde ter lucro era feio, ser rico era feio, juntar capital era feio.
Esta visão distorcida, que ainda prolifera em sociedades menos desenvolvidas, criou uma âncora no tornozelo das pessoas que querem empreender e passam a ser vistas como personagens de desconfiança, pois estão visando lucro.
O certo é que o lucro é uma obrigação social.
Uma empresa precisa ter lucro, deve estar comprometida a ter lucro e focar no lucro como objetivo primordial.
O fato é que uma empresa que não tem lucro é um problema para a sociedade.
Não paga direito suas contas como tributos, funcionários, fornecedores, está sempre se arrastando, mantendo uma operação deficitária que cria diversos transtornos para todos os que a ela estão associados, de alguma maneira.
Não adianta filosofar e argumentar que o objetivo primordial de uma empresa deve ser seu envolvimento social, pois isto é uma falácia diversionista, pois não existe empresa sem lucro, muito menos para ajudar os outros ou cumprir qualquer papel social ou comunitário.
Em qualquer caso ou circunstância, o lucro é o objetivo que sustenta todos os demais projetos de uma empresa, de qualquer porte.
Os métodos de gestão de maior sucesso, são formas de administrar os empreendimentos, de maneira que eles proporcionem operações lucrativas, sustentáveis e, portanto, saudáveis.
A forma de gerenciar um negócio, é manter uma visão direta sobre os aspectos que interferem na realização do lucro.
O lucro depende da congregação positiva de diversas variáveis, como o faturamento bruto, do qual são descontados despesas e custos, resultando na margem líquida, que nada mais é, que o lucro.
Cada uma destas variáveis é determinante para o resultado, como o mix de produtos, o giro de estoque, os custos e suas classificações, as despesas, os investimentos, um rol de informações que precisam estar na frente do gestor, para que ele tome decisões rápidas e eficientes, corrigindo distorções logo que percebidas.
Para que o lucro aconteça e a empresa cumpra com seu objetivo primordial, os modelos de gestão de sucesso orientam que sejam estabelecidos metas e objetivos, que quando cumpridos, resultam numa operação saudável.
A forma de conquistar estes objetivos traçados, é criar planos de ação, envolvendo todos os departamentos e equipes, pois com o cumprimento das ações programadas, a tendência é que os objetivos sejam atingidos, simples assim!
O problema, é que não basta fazer esta parte do dever de casa.
É preciso colher informações para avaliar o desempenho de cada meta, e para isto, é utilizado um conjunto de indicadores, que formam uma espécie de sistema de informações gerenciais.
Estes mecanismos de controle, normalmente na forma de relatórios fáceis e objetivos, trazem comparativos entre a meta e o que foi conquistado no período, para acompanhamento em tempo real.
Se você projetou uma determinada meta, o fez com consciência e profissionalismo, o que determina que esta meta não é uma aventura, uma loucura ou algo assim.
Então, se tudo seguir como o estimado, a meta deve acontecer.
Caso a meta não aconteça, obviamente ocorreu algo que não estava previsto pela lógica administrativa, um fato novo, ou como é mais correto denominar: uma ANOMALIA.
Se gerenciar é atingir metas, então podemos definir que gerenciar é eliminar anomalias.
O sistema de informações gerenciais e os indicadores, que trazem o comparativo entre as metas e o realizado no período, servem objetivamente, para apresentar onde existem ANOMALIAS, de forma que elas possam ser eliminadas e não atrapalhem a realização plena das metas.
Todo este cabedal de números, indicadores, controle de metas, desempenho, tudo está diretamente associado à contabilidade de uma empresa.
É o fígado fazendo seu papel importante de manter vivo o organismo e suas funções.
Contabilidade é uma ferramenta indispensável e existe exatamente por isto, pois não é possível viver empresarialmente sem controle sobre todas as operações.
Nem mesmo na vida particular é possível existir sem alguma espécie de controle robusto sobre praticamente tudo, o que faz com que a contabilidade seja fundamental.
Contabilidade não é ruim, o que é ruim é nossa tendência natural em fazer as coisas sem muita organização e disciplina, e a contabilidade costuma moldar boa parte de nosso comportamento, fazendo com que fiquemos melhores do que somos, e isto requer esforço e dispender esforço pode fazer parecer ruim.
O mundo avança em direção a uma evolução global, com novas tecnologias, novas ciências, novas formas de desenvolvimento, que requerem cada vez mais controle, já que qualquer movimentação, em qualquer direção, se torna cara e dispendiosa, o que inviabiliza aventuras irresponsáveis.
A contabilidade se ajusta aos novos tempos, na proporção em que novos sistemas de controle da informação surgem e oferecem recursos cada vez mais amplos e completos, permitindo avanços significativos e valiosos no que se refere ao registro e controle de todas as operações.
A própria legislação evolui e todos os dias muita coisa muda no comportamento das empresas em função de novas leis, novas formas como questões corporativas devem ser tratadas.
Impostos surgem, outros desaparecem ou são incorporados.
A legislação trabalhista sofre alterações, as próprias relações de trabalho mudam e tudo precisa estar em constante acompanhamento, pois tudo faz parte do organismo empresarial, do qual a contabilidade é componente indispensável.
É sua responsabilidade trocar o olhar como enxerga a contabilidade e passar a perceber esta ciência dos números como uma das mais importantes aliadas de sua empresa.
Desde o momento que a ideia de sua empresa surge, a contabilidade está presente, pois você precisará cumprir com princípios absolutamente necessários para obter o que necessita para funcionar de forma minimamente aceitável.
Os aspectos legais, os mecanismos de controle e apuração de seus resultados, não servem apenas para que os governos saquem (ou saqueiem) a sua parte em sua realidade, mas para que, além disto, você tenha consciência do comportamento geral de seu negócio.
É claro que a melhor contabilidade não é aquela que transforma este departamento num escritório avançado do governo dentro de sua empresa.
A contabilidade é um mecanismo que vai fornecer mais que informações, pois deverá proporcionar apoio decisório em seu cotidiano de gestão.
Uma boa contabilidade mantém a gestão abastecida de relatórios, indicadores e alertas positivos e negativos quanto ao comportamento e desempenho do negócio.
Provavelmente, o que você e a maioria das pessoas precisam, é o reconhecimento da importância da contabilidade como uma companheira, não como uma inimiga, assim como era a matemática no início de nossa vida escolar.
Quando chegava nas equações, na complexidade do raciocínio lógico, era mais fácil manifestar repelência, diante de uma matéria lógica, que exigia que pegássemos a subjetividade de nosso pensamento, que sempre viajava em meio a cenários fantásticos, de aventuras mirabolantes e personagens impressionantes, e transformássemos tudo, de uma hora para outra, na realidade lógica dos números.
A matemática, assim como a contabilidade, tinha, e tem, o poder de retirar nossa forma de pensamento, do agradável universo dos sonhos e trazê-los para a realidade.
Isto incomoda!
Não gostamos nem mesmo da nossa mãe quando ela nos acorda porque temos que despertar e encarar a realidade, exatamente o que a contabilidade faz.
Contabilidade é a janela permanente da realidade que você pode e deve acessar o tempo todo.
Uma janela para o verdadeiro conhecimento, onde você encontra as respostas que precisa de forma clara e evidente, mesmo que estas respostas não estejam sintonizadas com suas preferências.
Algumas vezes, a contabilidade é um remédio de sabor amargo ou utilização dolorida, pois ela demonstra a crueza da realidade em sua forma mais original.
Mas a contabilidade é educativa, assim como a realidade.
Não seja o “seu Joaquim” que foi cegado pelas suas perspectivas que pararam no tempo, e acreditava que velhas cadernetas precariamente mantidas, seriam capazes de prover o seu sustento permanente.
Talvez isto fosse possível naquela perspectiva de um velho trabalhador, que mesmo honesto e dedicado, não percebia que o mundo vai muito além de seus desejos, e todas as atividades, não importa a simplicidade ou tamanho, estão em constante transformação.
Seja o “seu Joaquim” que compreende a dinâmica do mundo, que percebe que a informação é indispensável para o seu desenvolvimento e sobrevivência empresarial.
Passe a olhar a contabilidade não como o inimigo que faz você fazer aquilo que não gosta de fazer, mas como a mãe que te acorda pela manhã, independente do seu ranço, não por outro motivo, porque é hora de acordar, de despertar para o mundo e para a vida, e que ela faz isto não como castigo, mas como um profundo ato de amor.